Há quem diga que o futebol explica a vida. Eu sou um deles. E, se você concorda comigo, terá que admitir que ontem morremos. E não foi morte morrida. Foi morte matada mesmo. De tão dolorida que não se entende. Não morremos para sempre, é verdade, mas morremos. Aquela morte que ataca até gente não nascida. Quem nascer hoje, amanhã, depois e por muito tempo, no Brasil, vai carregar nas costas o cadáver do Mineirão. Não há como fugir. O país que sempre respirou futebol encontrou ar por apenas 10 minutos. Perdemos até aquele oxigênio da indignação. Roubaram-nos até a força para cobrar alguma coisa. Não é fácil atropelar um país do tamanho do Brasil no futebol. Mas, ontem, morremos sete vezes. Nem um desfibrilador gigante, do tamanho da nossa vergonha, traria o nosso país de volta ao jogo.
Mesmo nós, todos os que acreditávamos, também não voltamos. Ficamos por ali sem entender que aquilo era um esporte chamado futebol. O que vimos foi outra coisa. Coloquem nos livros sobre futebol mundial que, em 8 de julho de 2014, o Brasil assistiu à maior aula de bola do planeta.
Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola. Mas nem isso conseguimos enxergar. Quando abrimos os olhos, estava escrito: 7x1. É conta de mentiroso. Sim. O que ocorreu ontem não pode ser verdade. Mas é. Um país inteiro tonto, zonzo numa roda de bobo, que nos levava sempre ao inferno. Nunca vimos numa Copa a bola ultrapassar tantas vezes aquela linha branca que separa, da maneira mais simples do mundo, alegria e tristeza.
Não foi a maior derrota do futebol brasileiro. Assistimos incrédulos à maior derrota do esporte brasileiro. Apenas porque, ontem, o futebol no Brasil foi reescrito. São 100 anos de história. Nunca caímos assim. Vamos ler uma centena de motivos para explicar o que ocorreu. Todo mundo terá razão. Mas um profeta que se preza não enxergaria uma tragédia desse tamanho para quem veste as cores verde e amarela.